Finito ou Através dos tempos #crônica #prosa #conto #leitura #ficção
Eu tinha sido princesa. Eu tinha sido viúva.
E todas as vezes que eu voltava de uma viagem no tempo eu sentia falta das pessoas que haviam passado pelas minhas outras vidas.
Conhecidas, desconhecidas…
Eu tinha sido mãe. E dona de bordel.
Tinha aposentado mais cedo e já tinha amado demais.
Morri cedo também, na flor da idade. E zombei do tempo, que outrora era meu aliado.
Em todas as viagens que eu fazia por ele em meus sonhos, voltava com uma história diferente pra contar.
Eu tinha a experiência da vida.
E também da finitude.
Acordei subitamente.
Levantei com vontade de ir ao banheiro e chorei.
Chorei porque fiquei pensando em você e contigo eu sentia a dor da falta do tempo.
Tempo era justamente o que eu achava que não tinha muito mais quando acordada estava.
Com você o sentimento que ficava é que eu tinha muito amor pra dar.
E ele sufocado num canto qualquer pela falta de… Tempo…
Engasgado. Soterrado.
Então eu voltei pro travesseiro e não consegui parar de pensar.
Veio a voz da poetisa cantando ‘Tempo, tempo, tempo, tempo’…
E se você tivesse aparecido pra reforçar exatamente isso? Que tempo é o que não tenho?
Está na hora de se contentar com o que existe e usar o tal cuidado pra levar uma vida adiante?
Mesmo que sem muito amor?
O contentamento descontente?
Me lembrei do professor e de sua secretária.
Do quanto ele viveu e fez escolhas.
E morreu de uma hora pra outra, deixando sua gargalhada enorme preenchendo o espaço infinito.
E percebi que talvez a vida seja isso.
A busca incessante pela felicidade com as armas que dispomos.
Alguns arriscam, outros aguentam, pra superar e seguir em frente.
Com o mesmo frescor de ter descoberto o primeiro amor? Nem sempre…